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Meus escritos
Meus escritos

 

  Ola!

Aqui reservei para meus escritos, que começaram há mais de trinta anos.

São fases distintas de uma busca errante por algo fugidio, que nunca encontrei.

Encontrei o amor, o prazer, a alegria de ser pai e o envelhecer inquieto.

Mas ainda busco o final dessa estrada, interminável, estressada.


assim como eu.


Abraço fraterno

 

E então eu calei

 

Queria pedir desculpas a essa mulher,

que tantas vezes eu quis.

que tanto quis ver feliz

 

e não consegui.

 

Essa mulher especial

que tanto desejei,

que em meus sonhos amei.

E em meus medos, magoei.

 

Sempre botando o trabalho na frente,

tinha a certeza na mente

que não nasci para amar.

 

E então eu amei.

e então me assustei

por não saber mais amar.

 

Não sabendo amar,

eu queria te dar

muito mais do que sei.

 

E então eu calei.

 

Estou na ponta do estado, do mundo, e no silêncio profundo, escrevi buscando uma paz que eu mesmo perdi.

 

 

 

Eu também renasci

 

Procurei na memória pedacinhos da história

que me fizessem sorrir.

Me lembrei do passado,de um dia agitado

em que não pude dormir.

Vi teu sorriso nervoso,

segurando minha mão,

e aquele aperto gostoso dentro do coração.

Eu te via parada, com a cara assustada

de quase mamãe.

Até hoje não sei

como foi que aguentei,

como não desmaiei

vendo nossa filha chegar.

E não pude evitar

uma lágrima rolar

ao lembrar desse dia.

Não me sai da lembrança

aquela pequena criança

que no peito senti.

E a colocaram em teu braço,

naquele primeiro abraço

que jamais esqueci.

Foi o dia em que eu

também renasci.

 

Já faz tanto tempo que ela nasceu,

e tanta coisa mudou, esse pai entristeceu.

 

 

 

O frio que me dá o vazio da cama

 

Eu queria poder te abraçar e dormir ao teu lado,

Sentir no meu peito as batidas do teu coração.

Relaxar no teu colo meu corpo cansado

e como um menino dormir segurando tua mão.

 

Eu queria acordar o teu sono ao raiar deste dia,

e sentir o calor do teu corpo no meu.

Te fazer o carinho que toda manhã eu fazia

sem conter o pulsar do meu corpo encostado no teu.

 

Mas olhando o vazio ao meu lado na cama

sinto o frio desta noite e um pedaço de mim.

Reclamando tua falta meu peito reclama,

eu queria não ter nessa vida outra noite assim.

 

Queria conter essa lágrima que insiste em cair,

esquecer-me que um dia te disse que ia partir.

eu queria apenas

estar ao teu lado e voltar a sorrir.

Numa noite de sexta em que já não consigo dormir.

 

 

 

Talvez no final do caminho

 

Quanto tempo faz que parti,

quantas vezes voltei, me ergui.

A alegria que tinha, perdi

estando longe de ti.

Quantas promessas te fiz

que não pude cumprir?

Como pude fugir,

sem fazer-te feliz.

Como fui prometer

à mulher que eu amo

que eu ia mudar, apagar

esse fogo que queima,

essa mania, essa teima

de voltar a errar.

De sempre magoar

a quem amo demais.

Talvez ao final do caminho,

eu me veja sozinho

e não te encontre mais.

 

E talvez só me encontre

No final do caminho.

 

 

 

Sete chaves

 

Tentei descobrir um segredo

que meu próprio peito guardava.

tentei fugir desse medo

que meu próprio medo criava.

E meu peito fechado escondeu

um segredo que era só meu

mas ele se esqueceu

que quem sofria era eu.

Quantas dores guardadas,

sete chaves passadas.

Um segredo escondido

com o tempo esquecido

eu tentei descobrir.

Sete chaves tentei,

outras sete busquei.

Ao abrir encontrei

um amor que deixei,

guardadinho no peito

esperando por mim.

E o medo que tive

de abrir o meu peito

me mostrou desse jeito

que o amor sobrevive

ainda dentro de mim.

 

 

 

Implorei para o tempo voltar

 

No momento que mais te amei,

te perdi,

procurei, não achei.

Desisti, me perdi.

O motivo,

nunca entendi.

Procurei em mim

razões que eram tuas

vaguei pelas ruas

lado a lado com a dor,

sentindo a realidade

dessa minha saudade

de sentir teu calor.

No momento que mais te quis,

eu parti.

Reclamei, chorei

por um erro que só eu cometi.

Bem feito! Falei.

E então implorei

para o tempo voltar

e eu pudesse te olhar

e pudesse gritar

que eu amo te amar.

 

 

 

Fugir para quê, se fujo daquilo que não quero esquecer

 

Tanto andei,

tantos lugares passei.

Voltar ao começo, para quê?

Já nem me conheço.

De um lado para outro,

fugindo de mim,

fugindo da vida

a procura do fim.

Alegrias, não tenho

mas as marcas que trago

me mostram o empenho, que tive

em meu próprio estrago.

Quantos tropeços eu dei?

Quantas vidas marquei?

Que herança deixei?

A não ser amargura.

Amei, traí,

fiz sofrer e sofri,

tenho o dom que herdei

de magoar quem amei.

Alegrias que tive,

no passado deixei.

Deixei no passado o sorriso,

o amor que perdi.

Amei um amor proibido,

escondido, bandido.

Só não é esquecido

pois não o quero esquecer.

E carrego a lembrança

agarrado à esperança

de poder reviver.

Não voltar ao começo,

que meu começo acabou

nosso tempo passou.

Chega a ser engraçado

que esse corpo cansado

seja mais castigado

pelo monstro passado

que ele próprio criou.

E amou.

 

 

Como sabes de mim?

 

Como sabes de mim?

Há tempos te foste,

levaste contigo o calor do teu corpo,

deixando comigo a frieza da noite.

levaste contigo o meu sonho,

deixando comigo o pesadelo de perder-te.

levaste também minha paz.

Difícil dizer, lembrar

lembrar uma noite,

tão mágica, tão trágica.

do calor do teu corpo, suado

da palpitação do meu corpo, molhado,

do carinho trocado,

do amor que fizemos.

A que horas te foste?

De que jeito partiste?

Acordei, procurei,

caminhei, me perdi.

E agora voltaste, reabrindo feridas.

Dizendo que entende

o que nem eu compreendo.

Que sabes de mim?

Que sabes das marcas,

que trago no peito, no corpo.

Voltas, por quê?

Esperas que aceite o carinho, o amor (que nunca esqueci)?

Espera que te abras as portas,

e os braços? Que sabes de mim?

Te olho com raiva,

e com raiva te digo:

Amor, que saudades!!

 

 

 

Não ter que lembrar que me lembro de ti

 

Ainda lembro das sextas

de um tempo passado,

do passeio abraçado

e do beijo roubado

numa noite de frio.

Ainda lembro os jantares,

ou das mesas dos bares.

Das trocas de olhares.

Do retorno para casa,

bem tarde,

do amor sem alarde,

para não acordar a nenê.

Ainda procuro o porquê

dessa guinada que demos.

Nem as cartas mais lemos.

Lembranças tão belas,

e que noites aquelas,

sem dizermos adeus,

eu me aproximava de Deus,

estando perto de ti.

O abraço cansado

no teu corpo suado,

nessa sexta perdi.

E então eu pedi

para essa sexta passar,

para não ter que lembrar

que me lembro de ti.

 

 

 

 

Quando a gente já sente o prazer em sofrer

 

Queria poder entender

o que acontece com a gente.

O que se passa na mente

quando a gente já sente

alegria em sofrer.

E por que não dizer

que eu queria aprender.

Pena que a vida não explica

por que a gente complica

o prazer de viver.

Ah, mulher, devias saber:

Eu não quero o prazer de uma noite,

também não quero o açoite

de acordar sem te ver.

De acordar sem sentir

o prazer de viver.



 

No caminho dos sonhos, esqueci de acordar

 

Minha alma caminha

nos caminhos dos sonhos

procurando por ti.

E nos caminhos que sigo te encontro,

te toco, te perco,

e continuo aqui.

Solidão que eu mesmo escolhi,

um mundo que entrei e nem vi.

Minha alma vagueia,

no escuro tateia

procurando por ti.

E me perco de mim,

perco a minha razão

perco tudo enfim

dentro da solidão.

Minha alma se esgueira

nessa minha cegueira

procurando por ti.

O arco íris que eu via

hoje é tela vazia

aquarela tardia

que não soube pintar.

Nunca soube acabar

essa minha história

que ficou na memória

vendo meu tempo passar.

Minha alma escorrega

pelo pano de fundo

dessa tela vazia

que virou o meu mundo.

 

No caminho dos sonhos, esqueci de acordar

Esqueci que o sonho poderia acabar.

Não pude perceber

que a vida me iria cobrar

todas vidas que não soube viver.

 

 

Há um tempo agora

 

Houve um tempo no mundo,

em que o amor mais profundo

se escondia da dor.

 

Houve um tempo na vida,

em que a paixão escondida

me causava mais dor.

 

Foi um tempo passado

em que o tempo parado

não queria passar.

 

Um tempo de ânsia,

que a nossa distância

só fazia aumentar.

 

Há um tempo agora,

que a solidão foi embora

em que posso te ver.

 

É um tempo recente,

e este peito descrente

reaprende a viver.

 

 

 

Um grito que ecoa nas paredes da alma

 

O corpo bêbado, os olhos sãos.

Bebi para esquecer as lembranças,

e elas vieram mais vivas.

 

Intensas, ativas.

 

O copo, ainda cheio,

a garrafa, agora no meio,

entorpecido, duvido

de tudo aquilo que creio.

 

Duvido da sorte, que perdi!

Duvido de mim, de quem esqueci!

Duvido da morte, com quem dividi

metade da vida que um dia vivi.

 

Metade da vida, dividida com a morte,

me faz tanta falta, agora,

que a minha metade já não se demora.

 

E o grito que ecoa

nas paredes da alma,

é o mesmo que soa

de uma vida que escoa

sem dores, rumores

sem trauma.

 

 

Assim

 

Hoje voltei ao recanto

apenas para ler, respirar um pouco de poesia.

Resolvi escrever um pouco,

e lavar uma alma cansada.

 

Letras e lágrimas passaram pela tela,

sem que nada ficasse,

como se tudo passasse

assim como eu.

 

Escrever é quase um retorno

ao antigo abandono

a que eu me atirei.

 

Tantos acertos eu sei que errei,

no passado que tentei esquecer

que nem ao menos voltar a escrever

tem me dado o prazer

que um dia me deu.

 

 

 

Retornando

Após tanto tempo vagando,
nessas viagens da alma,
retornei ao meu corpo,
que dormia, quieto, esperando.
E meu corpo inerte
de onde nunca saíra,
agitou-se ao contato da alma.
Acordou da estranha viagem
sem destino, sem rumo, bagagem.
Retornei sem as respostas,
que tanto busquei,
procurei, caminhei, flutuei
e enfim desisti, retornei.
Reencontrei meu viver
como o tinha deixado,
agarrado a um passado
que nunca soube esquecer.

Talvez nunca tenha tentado esquecer

 

 

No meio da rua

Um colega tombou!
Saiu de casa mais cedo,
e como sempre, também sentiu medo.
Um beijo no filho, na esposa, e continuou.

Mas não era um dia normal,
nesse, ele não voltaria,
o barulho intenso, a gritaria.
E um tiro o pegou, afinal.
Policia valente, curtido,
nunca acreditou que morreria
assim, pelas mãos de bandido.
Estando com a lei, a lei venceria!

Quem dera!

Do corpo, mais leve, a alma flutua,
já não se mexia!
Meu colega morria
no meio da rua.
Despedi-me sofrendo
ao ouvir seu suspiro,
era nossa verdade, realidade tão crua,
um grito, um tiro, um amigo morrendo
no meio da rua.


Poderia ter sido um dia qualquer, uma pessoa qualquer, um poema qualquer.
Poderia ter sido... Se não acontecesse de verdade.

 

 

O calor que eu sinto

O calor que sinto é tenso,
é o resumo de tudo que penso,
e nunca falei.

O calor que eu sinto
me aguça o instinto
e a lembrança do que já passei.
Juntando pedaços,
são cacos de um vidro partido.
E eu ando descalço,
cortado, perdido.

E os cacos me cortam, machucam.
Caminhando por eles
me sinto cortado
no sonho estranho
que sonho acordado.

 

 

 

Como lutar com esse vício cigano

É preciso que eu sinta saudade,
e que queira voltar.
É imperativo fugir dessa inércia que invade
essa alma acostumada a voar.

Essa imutabilidade perene, constante
quase eterna;
Proteção instintiva, materna.
Aprisiona meu coração errante.

As lembranças florescem, crescem,
se agigantam, em seu domínio sensorial.
Azucrins a corromper uma alma perdida,
com seu abraço indolente, envolvente, vaginal.

E a paz já faz mal
ao cigano bargante
que se agita, e grita.
Tal e qual sua alma errante.

Novamente a cilada (maldade),
a ânsia do descaminho,
do caminhar sozinho
e do sentir saudade
domina, fascina, ecoa.
e a rotina (ou cura) já não é mais tão boa.


Como lutar contra esse vício cigano?

 

 

 

Rompendo mordaças

 

Tomado de coragem

seu peito grita, se agita,

um grito brutal, violento, selvagem.

É cada palavra esquecida, não dita.

 

O silêncio, outrora reinante,

a compungir sua alma quebrada

vai cedendo, assim, vacilante

a toda palavra agora gritada.

 

Rompendo mordaças antigas,

canta as velhas cantigas

que criança, o faziam dormir.

 

O canto desperta o ente dormente

da febre latente, demente

e já não há quem não possa seu canto ouvir.

 

 

Liberto

 

Liberto das correntes aflitivas,

do relógio, do tempo, despojo;

A camisa aberta, à brisa furtiva

me solto do tempo por puro arrojo.

 

O amor, sereno e sem ciúme,

ciciando palavras ao pé do ouvido,

e o som gostoso, sentido

me livra ainda mais de antigo aziúme.

 

Hoje, liberto, quero somente

na paz do teu sorriso contente

aspergir meu sorriso contido.

 

E ao sorrir teu sorriso aberto

corrijo meu compasso a teu passo certo

e reencontro o prazer esquecido.

 

 

 

Em que um beijo te dei

 

Da vez primeira em que um beijo te dei,

Ainda lembro o inusitado,

o beijo desencontrado, babado.

 

Daquela vez me lembro sorrindo,

Do beijo ligeiro, findo.

Me lembro das faces, vermelhas,

O olhar maroto e o brilho nos olhos.

 

Tanto tempo é passado,

E o gosto do beijo, quase roubado,

Ainda o sinto comigo, guardado.

No brilho do olho, no lábio tocado.

 

Éramos tão jovens, tão bobos,

Pensamentos poucos,

Diversos arroubos,

Inconsequentes e loucos,

 

Beijo de poucos beijos dados,

As mãos se tocando, de leve, TÃO LEVE! Dedos suados! Assustados!

Quase com medo, o nosso segredo não durou um segundo.

Segredo adolescente é quase indecente se não for contado.

Ao vento, aos gritos, aos cântaros.

 

Ainda me lembro daquele beijo roubado.

 

 

 

Depois da carne

 

Depois da carne, o que ocorre?

Quando os olhos fecham e o corpo morre.

 

Depois da carne, quando a alma se solta

outra viagem de ida e de volta.

 

No caminho das almas,

onde almas se perdem

quando tem que partir.

São caminhos que faço

nesse meu descompasso

quando consigo dormir.

 

Descolado do corpo, andei

passeando sozinho,

refazendo um caminho

que tantas vezes trilhei.

São só sonhos, visão.

Revirando lembranças

de andanças na terra,

outra vida se encerra

sem aprender a lição.

 

Queria ter a certeza que terei um amigo,

que me acolha em abrigo

quando desencarnar.

 

Eu já não quero errar

pelo medo de achar

as verdades que escondo.

 

 

 

Era tudo mentira, era pura bravata

 

Eu brigo contigo,

tu brigas comigo.

Brigamos por quem?

 

Eu tenho uma idéia,

outra idéia tu tens.

Mas há outras também!

 

Nossa razão desconhece

a esperança lá fora.

De uma gente que chora

implora, padece.

 

Nos tornamos partido.

E o sonho esquecido

ficou no passado.

 

Escondida no nó da gravata,

a velha promessa, hoje é pura mentira.

Levada no vento,

era pura bravata.

 

 

Tela opaca

 

Que coisa incrível, essas pessoas sorrindo.

E seus sorrisos sumindo!

Palhaços em uma piada sem graça,

platéia vazia, tão fria!

Nos olhos, o medo que o medo se faça,

e o choro desfaça

o sorriso forçado.

Mas o sorriso persiste, tão triste!

É agora uma pintura, sem cor,

um retrato da dor.

Quando o pintor já não fala, se cala.

Desenha somente

aquilo que sente, uma idéia de vida.

Uma vida sem cor, demente.

 

 

Onde o sonho ficou

 

Ouvindo notícias passadas,

em palavras caladas

guardadas no peito,

gritadas ao vento,

que o vento levou.

 

Leitura aflita

no jornal da minha vida,

uma vida perdida

escrita

nas folhas do tempo.

 

E o vento devolve as velhas notícias,

aguçando sentidos.

Pecados esquecidos,

pequenas carícias, malícias.

O tempo não para,

ele nunca parou.

Estou onde estou

por não ter onde estar,

por não querer ficar

onde o sonho ficou.

 

 

 

Meu velho endereço

 

Hoje volto a Porto

nesse meu jeito torto

de voltar ao começo.

 

E a cada tropeço

me levanto, esqueço

de parar de andar.

 

De parar de buscar

o que não consigo alcançar,

o que nem consigo entender.

 

Voltar ao começo é como voltar na história,

resgatar na memória

o que resta de um sonho bonito.

 

É um buscar aflito,

de um eterno conflito

entre o que sou e o que era.

 

E encontrar, algum dia,

o equilíbrio perdido.

O prazer esquecido

em uma vida vazia.

 

Então eu volto ao começo,

ao meu velho endereço,

no meu porto seguro.

Venho fugindo do escuro

que entrei sem querer.